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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

DO OUTRO LADO DO MUNDO



O frio era intenso. Acostumado ao calor da Amazônia eu tremia naquele frio de dezembro. Tóquio me pareceu algo fora do comum. Limpa e iluminada para o Natal a capital japonesa literalmente brilhava. O fuso horário havia virado minha cabeça.
Metido numa van fui de Guma à Tóquio a fim de conseguir as credenciais para o jogo Vasco e Real Madrid. Nada na cidade lembrava que no dia seguinte ia acontecer uma final da Copa Toyota. Na verdade o noticiário falava mais da visita do presidente dos Estados Unidos.
No Okura Hotel fiquei receoso de não fazer o jogo. A recepcionista explicou que o credenciamento estava encerrado. Comecei a explicar num espanhol macarrônico que tinha atravessado o planeta para transmitir aquela partida. Mas a japonesinha continuou repetindo que sentia muito, mas não havia como resolver o meu problema. Mostrei de onde eu vinha num grande mapa que havia na parede. Quando falei a palavra Amazônia senti que minha interlocutora se comoveu.
Mas a resposta que eu queria ouvir não foi dita. Havia um cidadão sentado no fundo da sala, mexendo num computador ouvindo tudo sem se manifestar. De repente ele disse algo em japonês sem olhar em nossa direção. A moça fez uma mesura com a cabeça e finalmente disse que ia providenciar o credenciamento.
Duas horas depois eu estava seguindo para o estádio. Na chegada ouvi ao longe uma bateria de escola de samba. Era a torcida do Vasco que esquentava os tambores n o estacionamento. Na entrada havia um porteiro uniformizado que olhou a minha credencial e apontou a porta por onde eu deveria entrar.
Dentro do estádio o clima era um pouco diferente das finais de campeonato brasileiro. No máximo os japoneses se permitiam usar a camisa do clube ou um cachecol para amenizar o frio cortante. Depois que encontrei o local reservado saquei do telefone Global Star e liguei para os estúdios da RDM.
O jogo marcado para sete da noite no horário de Tóquio correspondia sete da manhã no horário brasileiro. Foram várias tentativas de completar a ligação. Quando eu já estava começando a me preocupar ouvi a voz da telefonista da Radio Difusora. Naquele momento tive certeza que faria a transmissão mais importante da história do rádio amapaense.
Passados 10 anos do feito as lembranças ainda brotam. Principalmente quando encontro com José Caxias, parceiro naquela aventura, com quem eu voltaria ao Japão no ano seguinte para mais uma final da Copa Toyota.

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